sábado, 3 de novembro de 2012

A cabeça de Bezerra era feita por muito mais do que você está pensando.

Quem fazia a cabeça de Bezerra? O povo. Um pouco óbvio? Sim. Porém o mais encantador é mergulhar em entrevistas irreverentes e descompromissadas com homens sem dente, tomando uma gelada, loucos, camelôs. Gente que você vê passando na rua e nem nota, às vezes até despreza. Gente bêbada, macumbeira, que só quer saber de festa. Favelados que não tem nenhuma chance na vida. Tudo isso pode até ser verdade, mas no fundo, era esse tipo de gente que fazia não só a cabeça, mas também as músicas mundialmente famosas do ícone do samba Bezerra da Silva.
 
A ideia do documentário é genial, Bezerra é apenas pano de fundo. Quem está em primeiro plano são seus compositores, que eram muitos, e tinham muita história para contar. O filme nos leva a refletir sobre diversos assuntos: legalização da maconha, marginalização de quem mora nas comunidades, polícia e políticos corruptos, ‘caguete’ e muito mais. Tudo isso embalado por uma musicalidade única, que só o samba de raiz sabe fazer. Pessoas que visivelmente não se arrumaram para aparecerem bonitinhos no vídeo e muito menos pensaram no que iriam dizer para as câmeras. Aliás, por muitas vezes nem olham para a câmera.
 
Se a produção do documentário fizesse o documentário alguns anos depois do que fizeram, provavelmente teriam os mesmos depoimentos, o mesmo registro. Cada compositor conta a história de suas músicas divertidamente, entre um copo e outro, um samba e outro. Para quem gosta de samba, de Bezerra ou de gente a diversão e identificação é certa. Nilópolis, Nova Iguaçu, Duque de Caxias e outras comunidades da Baixada e do Rio são a origem do que hoje é referência musical mundial.
 
Como homens tão pobres puderam enriquecer tanto uma gravadora?  - A gravadora ganhou muito dinheiro. Eu fiquei com a fama. – Bezerra da Silva fala isso sem tristeza nos olhos, pois complementa dizendo que o microfone era sua maior arma. Que muitos tinham medo do que ele poderia falar. O pai de santo, o carteiro, o vendedor de discos e todos os outros trabalhadores - compositores parecem também não se importarem muito a injustiça que sofreram. Ou apenas se conformaram, como a maioria dos brasileiros. E malandragem, dá um tempo. Antes um pobre de consciência tranquila do que um rico que precisa tomar remédio para dormir, né não?
 
No final o que restou para mim foi uma sensação de que, pelo menos, os que enriqueceram às custas dos trabalhadores e não deram o que eles mereciam, até hoje vão para algum boteco ou escola de samba curtir o som que é do povo. Definitivamente, o samba é e sempre será do povo! 
 
Mais informações sobre o filme em http://www.ondeacorujadorme.com.br/